domingo, 28 de fevereiro de 2010


Por detrás de meus olhos
 



Uma leve neblina toma conta da pequena Itabuna. As ruas vazias do centro da cidade têm seu silencio quebrado pela doce voz de Ninna, e o violão de Adriano. A musica ecoa pelos prédios da avenida do cinqüentenário enquanto o grupo de jovens se diverte bebendo e cantando. Angello, um jovem de 22 anos, alto, de cabelos caracolados loiros, chega trazendo com ele um litro de vodka, que é dividido com o grupo. Ele senta-se junto a uma das arvores da praça, mantendo-se afastado dos demais. Rodrigo junta-se a ele perguntando o que estava acontecendo.
- Mano. Ta triste? Pergunta Rodrigo.
- Não mais que o habitual. Responde ele de cabeça baixa. Angello tem um ar misterioso, sempre com seus olhos tristes, e nunca sorrir. Mas nesta noite ele estava um tanto diferente. Talvez pela neblina que agora parecia mais densa, ou pela leve garoa que caia. Seus olhos demonstravam um pesara quase funéreo. Ele leva o copo contendo vodka à boca e sorve seu conteúdo em pequenos goles, como se saboreando o liquido forte. A lua hoje não apareceu. Talvez seja por isso a minha tristeza.
- Fica nessa não cara! Vamos para lá onde esta o grupo. Fala Rodrigo.
- É... Vamos. Angello levanta-se e segue com Rodrigo em direção do grupo.
 Luana abraça Angello e senta-se ao seu lado. Adriano começa então a tocar Stop crying your heart out da banda Oasis. Angello começa então a cantar, e sua voz é tão pura, que chega a se assemelhar ao som de um violino. Ele canta como um anjo. Seus olhos tristes se iluminam com uma luz fria como a madrugada que passa por eles.
As horas avançam rápido, e alguns se despedem e se vão. Danilo segue em direção de seu bairro sozinho. Ed já havia partido assim como Angello, ficando apenas Ninna, Adriano, Luana, e Rodrigo na praça.
Danilo segue silenciosamente por entre as ruas em meio à neblina. Os postes elétricos com suas luzes amarelas iluminam a estrada por onde o jovem caminha. Porem ao cruzar uma rua pouco movimentada, ele escuta novamente o cantar de pneus. Mas desta vez, o carro era real. E ele acaba sendo atingido por uma Pick-up F 250 prateada que estava fazendo racha com um Audi A3. Porem na hora do impacto, um volto escurecido como a noite trajando asas negras como a ônix, aparece na frente do jovem salvando a sua vida de uma morte por atropelamento. Ninguém foi capaz de ver o volto. Mas ainda assim Danilo sofre uma pancada forte na cabeça e desmaia. É levado ao Hospital Calixto Midlej Filho pelos ocupantes do carro que o atingiu. Lá, ele foi colocado no Centro de Tratamento Intensivo, ficando em coma induzido.   
Os familiares e amigos do jovem chegam ao hospital no dia seguinte. A sua mãe se desespera. O estado do rapaz é grave, e ele corre sérios riscos de morte. Ela se mantém ao lado de seu filho. Em prantos copiosos ela ora a Deus que salve a vida de seu garotinho. Em um canto do quarto onde eles se encontram um ser invisível observa tudo com uma lagrima a cair de seus olhos sombrios. Esse é o mesmo ser que salvou a vida dele e que, como hoje, chorou no nascimento dele. Porem ele chora de culpa, pois não deveria ter salvado sua vida. Deveria deixar que o curso normal do destino fosse cumprido. Aquela era a hora em que o jovem iria partir. Mas o ser triste não pode deixar que ele se fosse.
De repente, outro ser invade o quarto. Esse encara o primeiro com um ar serio.
- Não deveria ter agido assim. Fala para o primeiro. Sabe que era à hora dele?
- Sei... Mas não pude deixar que ele fosse ceifado desta forma.
- Idiota! Tu e seu sentimentalismo. Seres como nós não devem sentir. Não fomos feitos para ter pena. Fomos criados para observar-los. Apena. Não devemos nos meter em seus caminhos.
- Não me culpe por sentir, Seraph. Tu sabes melhor que eu, que essa é a minha natureza.
- Não, Ehles’tar. Como eu, tu também caiu. Não é mais de sua natureza o amor pelos humanos.
- Sim. Eu sei que cai...
- Se arrepende? Pergunta Seraph. Um ser de estatura mediana, cabelos pretos ondulados ate metade das costas, e pele tão branca quanto o mármore. Seus olhos são plácidos de uma luz azulada como a lua que brilha branca no céu durante o inverno. Ele deve partir hoje, são as ordens. Eu mesmo o levarei... Sua missão acaba aqui.
- Eu te rogo. Não o leve. Olhe como a mãe dele esta, isso me parte o coração. Não apieda a ti?
Um longo silencio cai sobre o recinto, e é quebrado pelo choro da mãe do Danilo. Seraph se dirige para perto do leito onde se encontra o jovem desacordado.  Ele fita os olhos de Ehles’tar que agora toma para si uma luz profunda de um tom acinzentado. A mãe do garoto ora ininterruptamente sem se dar conta do que acontece ao seu redor em um plano paralelo ao seu. Suas lagrimas molham o lençol azul que cobre o corpo inerte de seu jovem filho. Seraph olha isso com uma frieza quase palpável.
- Sua brincadeira está indo longe demais Ehles’tar. Eu não poderei te salvar se isso fugir do controle. Sabe que não deveria se misturar aos humanos e interferir em seus caminhos. Seraph toca a cabeça de Danilo com um de seus dedos. Mas que seja atendido o pedido de uma mãe desesperada. Mas não torne a desobedecer a ordem do destino. Seraph desaparece. Danilo agora estava a salvo de uma morte prematura.
- A vida dos humanos é curta demais comparada a nossa. Mas o que poderiam fazer se vivessem o suficiente para entendem o quão grande é a plenitude de estar vivo...?
Os dias passam e Danilo sai do Centro de Tratamento Intensivo sendo transferido para um quarto. Sua mãe esteve ao lado dele todo o tempo agradecendo a Deus por ter poupado a vida de seu filho, não sabendo ela que Deus não teria mudado o destino dele. Sua fé e a piedade que ainda habita o coração de Ehles’tar comoveram o frio coração de Seraph que o teria levado. Ehles’tar mantém-se ao lado de seu protegido todo o tempo, sempre velando seu sono.
E assim, os dias continuam passando por eles como grãos de areia em uma ampulheta. Mais uma noite vem e se vai morta por um sol avermelhado como a terra de um campo de guerra, levando consigo os fantasmas de uma alvorada, deixando para trás de si as petas desfolhadas da lua.     

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Luzes de uma nova Noite


Em uma praça da pequena cidade de Itabuna, um grupo de jovens se reúne para conversar, beber, e rir das situações corriqueiras do seu redor.
Natalia, uma jovem de 16 anos, bebe enquanto o seu namorado Benjamim, um rapaz de 18 anos, alto e com um corpo trabalhado em academia, cabelos curtos meio arruivado, vestindo com uma camiseta estilo regata branca, e bermuda preta, conversa com Flavio seu amigo de infância. Todos estão envolvidos nas suas conversas quando Adriano, um garoto de 17 anos, um tanto baixo para a sua idade, e corpulento sem ser gordo. Vestido com uma camisa preta da IRON MAIDEN, uma calça jeans e tênis ALL STAR, chega e senta-se com o restante do grupo trazendo um violão.
- iaê! Fala Adriano para o restante do grupo, que responde com um “iaê” quase que ao mesmo tempo.
- Adriano, tu viu o Ângello por ai? Pergunta Natalia. Ele sumiu. Nunca mais o vi.
- Nem... O cara evaporou. Responde Adriano. Quem deve ter noticias dele é o Dan. Mas também nunca mais o vi.
- Eh! Os caras somem. Fala o Ben. Vou comprar mais birita. Vem comigo amor?
- É! É bom! Responde a Natalia.
O Ben e a Natalia saem deixando os outros na praça. Eles vão abraçados pelas ruas da cidade em busca de um lugar para comprar bebidas. Em determinado ponto, eles avistam o Rodrigo junto de mais alguns companheiros.
- Iaê Dom! A galera ta La na praça! Da uma chegada La! Diz o Ben.
- Beleza! Vou sim! Só vou deixar a Luana em casa, e já vou pra lá! Diz Rodrigo com voz de embriagado.
- Estamos indo comprar birita! Diz Natalia
- Opa! Mais um motivo pra eu ir!
Todos riem, o Rodrigo segue com o grupo dele, e o Ben com a Natalia vão procurar um lugar aberto para comprar a bebida.

Do outro lado da cidade Danilo um rapaz de 21 anos, estatura mediana, com cabelos encaracolados e rosto com poucas sardas e olhos pequenos como os de um oriental, prepara-se para sair, e encontrar os amigos. Ao fechar o portão de sua casa, ele escuta o cantar de pneus, mas não vê carro algum.
- Seria coisa de minha cabeça? Pergunta-se o jovem.
Ele se livra do pensamento, e segue em direção ao centro da cidade.  Anda pensativo, preso em seus pensamentos ate chegar a Praça Camacã. Um lugar aberto com algumas arvores, uma área de lazer para crianças e uma fonte no centro. A iluminação esverdeada dava um tom pálido às pessoas que transitavam por lá. Alguns vendedores ambulantes e um pequeno estacionamento compunham o resto do cenário, onde estavam reunidos os seus amigos.
- Iaê galera! Fala Danilo para o grupo reunido.
- Rapaz! Achei que tinha morrido. Fala Adriano para o recém chegado.
- He he! Também achei! Rir o Danilo. Mas não. Estava só sem tempo mesmo. É que tava estudando para o vestibular. Daí não tinha tempo para sair.
- Hum! Garoto intelectual. Diz o Flavio, em tom zombeteiro.
- É! A minha velha ta querendo que eu seja gente.
Todos riem.  Eles brincam com a situação.
 Adriano começa a tocar Ever Dream da banda Nightwish, banda que em comum, todos eles gostam. A Ninna canta enquanto Adriano toca, a voz dela é tão linda quanto à voz dos anjos celestes. Ninna, uma garota morena, com cabelos longos até a cintura, negros como uma noite sem lua. Seus olhos são plácidos de uma luz funérea, que chega a assustar os desavisados. Seus lábios são finos e belos como se desenhados a mão, por um pintor renascentista. Sua voz enche a praça com uma luz mórbida, mas ao mesmo tempo sublime como um nascer de um sol morto entre nuvens cinzentas.
Em outro lugar. Natalia e Ben estão procurando por bebidas, e ao passar por uma rua escura sentem-se perseguidos por um grupo de marginais. Eles apressam os passos, ao passo que os marginais também avançam. Dar-se inicio a uma perseguição, que leva os dois a uma viela. Cercados e sem esperanças de fuga, Benjamim resolve enfrentar os bandidos que os perseguem. São no todo três indivíduos. Um deles parece estar de posse de uma faca. Natalia desespera-se e pede para o namorado não reagir. Mas Ben não a ouve e avança sobre o bandido desferindo lhe alguns golpes. Mas a desvantagem esta do lado de Benjamim que se vê cercado pelos meliantes que o agridem com chutes e socos. Mesmo tendo um corpo robusto, Ben não consegue dar cabo dos bandidos.
Indefeso em sem ter como reagir, Benjamim vê assustado quando um dos bandidos avança em direção de Natalia. Ele aplica-lhe um soco em sua face. Esta por sua vez cai, enquanto outro tenta roubar-lhe a bolsa que ela trazia.
- Não tequem nela! Deixem-na em paz! Grita desesperado Benjamim.
- Cale a boca, ou teremos que te calar nós mesmos. Fala um dos bandidos que segura Ben no chão.
- Me largue! Grita Natalia. Socorro! Alguém me ajude. Mas parece que ninguém a escuta.
De repente, da entrada da viela vê-se uma sombra.
- Não escutaram a garota? Soltem-na. Fala alguém ameacadoramente. Ou terei que agir com violência.
Os bandidos olham em direção ao que acaba de chegar e se riem.
- Quem irá nos obrigar? Você? Pergunta um dos meliantes zombeteiramente.
O rapaz continua em silêncio, e avança lentamente em direção ao final do beco escuro onde se encontram Natalia, Ben e os marginais.
- Não falarei duas vezes. Fala com uma voz calma, porém assustadora.
Os bandidos soltam Natalia e vão em direção ao rapaz.
- Cuidado! Um deles está armado! Grita Natalia para o rapaz que acaba de aparecer para salvar-lhes a vida.
O jovem avança sobre os meliantes com uma velocidade inacreditável. Atinge um com um soco no estomago, outro com um chute na perna seguido de uma joelhada na cara. E por fim ele vai em direção ao que está armado, eles lutam em um combate corpo a corpo até que o rapaz consegue tomar a faca das mãos do marginal, lançando-a longe, ele desfere vários golpes no rosto do mesmo que fica imobilizado no chão.
- Vamos logo antes que esses desgraçados levantem. Fala o rapaz para aos dois jovens namorados.
Eles saem correndo e voltam para a praça. Natalia ofegante e chorosa cai de joelhos e é segurada por Adriano.
- O que aconteceu? Pergunta assustado.
- Quase morremos ainda agora. Três marginais nos seguiram e tentaram nos roubar. Responde Benjamim com voz tremula e assustada. Se não fosse por esse cara, nos agora poderíamos estar mortos. Falando nisso. Cara, muito obrigado por ter nos salvado. Diz Ben pegando a Mao do rapaz.
- Não há de que. Eu estava passando e ouvi os gritos, não poderia deixar de ajudar. Fala o jovem com um leve sorriso nos lábios. Me chamo Edward, mas pode me chamar de Ed.
Edward, alto cabelos castanhos lisos e longos até pouco abaixo dos ombros, olhos acinzentados de um azul profundo, um tanto magro para a força e agilidade demonstradas no combate com os marginais, porem com uma postura de imperador.  
- Pow mano. Valeu mesmo. Fico te devendo essa. Fala Ben.
- No pânico, não deu nem pra comprar as biritas. Brinca o Adriano. Mas graças a Deus vocês estão salvos. Valeu cara por salvar nossos amigos. Tu poderia ficar aqui com agente. Estamos fazendo um sonzinho massa aqui.  
- Claro. É sempre bom fazer novos amigos. Ainda mais amigos roqueiros.
A noite transcorre calma, como se nada houvesse acontecido. Apenas as dores leves num dos flancos denuncia que Ben havia sido espancado.  As estrelas cintilam suas luzes etéreas e as nuvens dançam num céu azul petróleo profundo banhado por uma lua plena. As luzes da cidade colorem o asfalto como pinceis de um artista louco, com seus amarelos palha. E tudo dorme em paz. Os jovens aos poucos vão se indo ficando apenas a promessa de estarem no mesmo local no fim do próximo dia. Edward agora já entrosado com o novo grupo de amigos fica na praça, contemplando a lua que desfila no céu noturno emoldurada por nuvens prateadas e estrelas reluzentes, como diamantes dum colar de uma rainha antiga. E tudo transcorre em paz. Até o final de uma velha noite, sendo morta por um sol doente, que teima em nascer por entre nuvens coloradas de chumbo.  
  

O nascer de um mundo


Ano de 1989, uma criança acaba de nascer em um hospital de uma cidade no interior do estado da Bahia no Brasil.
Um ser invisível está a assistir o nascimento deste pequeno ser. A criança é entregue a sua mãe, que o aperta ao peito, para que ele possa sentir o seu cheiro, e o beija. O ser invisível também se aproxima do bebê. O recém nascido o olha nos olhos e rir. Ele também rir e uma lagrima corre de seus olhos tristes. Um elo acaba de ser criado entre a criança e este ser.
Nos olhos do pequeno menino que nascera, pode se ver o seu destino. Como um livro que se abre e se pode ler as suas paginas. O ser invisível as leu, e entristeceu por ler-las. Era um fim prematuro, ceifado por um carro aos 20 anos.
Por um momento o triste ser que teria a missão de acompanhar a criança, relutou em aceitar essa missão. Mas ele não poderia recusar, teria que ser o seu tutor, teria que acompanhar a vida, e morte deste pequeno ser.
O elo que liga o ser invisível com a criança é bastante forte, e esta pode ver o seu tutor. E eles brincam juntos na sua infância. A mãe da criança acha que se trata de um “amigo imaginário”. Aos cinco anos, a criança começa a falar para a mãe de seu amigo, e esta sempre rir e fala: 
- É seu anjinho guardião, meu filho! Ele sempre te protegerá. Ela não esta totalmente errada sobre isso.
Os anos passam e o elo vai se enfraquecendo, a criança não é mais capaz de ver seu “anjinho guardião” com tanta freqüência. Mas ainda assim conversa com ele em orações. E este sempre o escuta, nas sombras de seu quarto. Com o tempo as orações vão se tornando cada vez mais esporádicas. E em fim, a criança cresce. Deixando de orar para seu anjo. O que deixa o ser invisível triste, pois sabe que inevitavelmente o esquecerá. E as visões não passarão de “coisas de criança”.
A puberdade chega para o jovem. Este agora com 17 anos tem seus interesses mudados com o chegar da juventude.  Ele passa a pensar em garotas, festas, seus amigos e em fim, esquece-se de seu anjo.
O ser invisível, o seu anjo, de suas sombras o observa, sempre. Afinal, é sua missão proteger o jovem. E com o crescer de seu protegido, cresce com ele uma vontade de estar presente em seu destino. Como o amigo que era quando este era criança. E ele toma uma decisão. A de se fazer visível novamente para seu protegido. Não como antes, onde apenas ele podia ver-lo. Mas como um ser humano de verdade. Este se torna então um jovem de 17 anos também, para poder camuflar-se entre os jovens que circundam o seu protegido. E assim inicia-se uma historia de amizade entre um humano, e um ser espiritual.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010




Demônios também choram.





“Ainda que eu falasse a língua dos homens,
E falasse a língua dos Anjos,
Se não tivesse amor, seria como o metal que soa
Ou o sino que retine.

E ainda que eu tivesse o dom de profecia,
E conhecesse todos os mistérios e todas as ciências,
E ainda que tivesse toda a fé, de maneira
Tal que transportasse os montes
E não tivesse amor,
Nada seria.

E ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,
E não tivesse amor,
Nada disso me proveitaria,
E ainda assim
Eu nada seria...”
                                         Corinto 1. 13,1 à 3.




Lagrimas do Céu




Chove muito sobre a velha Paris. Os ventos uivadores cortam o ar como laminas de pura prata, e fazem tremer os antigos vitrais da velha e suntuosa catedral de Notre-Dame. A praça Parvis esta deserta, assim como a pequena Île de La Cité. Apenas um único ser se faz visível entre os grossos fios de água que não param de cair.
Ele caminha por entre os arbustos calmamente como se a chuva, não o tocasse. Parece etéreo andando por sobre a grama molhada da praça. De repente um raio corta o noturno céu iluminando tudo com o clarão, tornando a noite um sombrio dia momentâneo. Olhando para a entrada da catedral ele se depara com mais uma figura.
De fronte ao Portal do Julgamento, como se fizesse parte dele, está a outra figura, e parece que observa o primeiro. Por um momento este parece que não da importância a repentina aparição do outro, mas subitamente vai ao seu encontro.
- Que fazes aqui? Pergunta o primeiro. Com uma voz tão pura quanto o cristal. Seu timbre lembra, levemente, o som de um violino.
- Terminaste o teu trabalho? Retruca o outro com voz igualmente bela. Porem este tem um tom mais grave, profundo, como um baixo.
Aparente mente, a chuva cessa, e os ventos que outrora cortavam o ar, se acalmam como para ouvir os dois conversarem com suas vozes magníficas.
- Sim... Ele partiu. Diz o primeiro com tristeza.
- Achei já tinhas se livrado desse sentimentalismo por eles. Diz o segundo virando-lhe as costas e andando em direção ao Portal da Virgem. Ele observa os belos desenhos feitos no século XIII, representando cenas da vida e morte de Maria, onde se vê figuras de reis e antigos patriarcas do antigo testamento, sobe o tímpano onde retrata a coroação da Virgem Maria. Vê, todos eles partiram, todos eles se foram. E o que Nós podemos fazer? Nada. Nós não podemos interferir-lhes a vida, nem o destino. Podemos apenas observar-los, e conduzir seus caminhos para que não se percam em suas jornadas.
- Sei bem. Mas... Apiedo-me ainda de suas partidas... Tantas coisas que eles poderiam ter feito...
- Ridículo esse pensamento vindo de ti. Outro raio cruza o céu parisiense. E como se por mágica o outro desaparece no clarão, deixando só o primeiro, que observa os alto-relevos do arco que emoldura a entrada esquerda da catedral.
A chuva volta a cair em largos fios grossos sobre os telhados de Paris, como se todo o céu noturno chorasse.
- Lagrimas do céu... Estar na amargura de viver, e ver que todos se vão menos tu. É ser amaldiçoado com a pior tortura. A de estar vivo. Sussurra, enquanto o vento gélido corta os ares de velha cidade.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Passa por mim, passa...
Vê alguma das Graças? Então porque me olhas assim!
Buscando algo em mim... Em mim não há nada....
Sou só um conto de fada.. girando atado....
Um redemoinho ao vento....nenhum sentimento....
Só, o fantasma da arte , que aflora e parte, sonho fugaz de teima e paz...
Uma serena euforia, que se eu pudesse, pararia, não escreveria, não revelaria,
Essa página rasgada, esse resumo do nada...
E ao fantasma da arte quando aflorasse e a serena euforia quando chegasse...
Antes diria em triste aceno...
Eu, um sinal de menos....

Florbella Espanca

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Poema negro

A Santos Neto

Para iludir minha desgraça, estudo.
Intimamente sei que não me iludo.
Para onde vou (o mundo inteiro o nota)
Nos meus olhares fúnebres, carrego
A indiferença estúpida de um cego
E o ar indolente de um chinês idiota!

A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade?!
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
— Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.

Em vão com o grito do meu peito impreco!
Dos brados meus ouvindo apenas o eco,
Eu torço os braços numa angústia douda
E muita vez, à meia-noite, rio
Sinistramente, vendo o verme frio
Que há de comer a minha carne toda!

É a Morte — esta carnívora assanhada —
Serpente má de língua envenenada
Que tudo que acha no caminho, come...
— Faminta e atra mulher que, a 1 de janeiro,
Sai para assassinar o mundo inteiro,
E o mundo inteiro não lhe mata a fome!

Nesta sombria análise das cousas,
Corro. Arranco os cadáveres das lousas
E as suas partes podres examino. . .
Mas de repente, ouvindo um grande estrondo,
Na podridão daquele embrulho hediondo
Reconheço assombrado o meu Destino!

Surpreendo-me, sozinho, numa cova.
Então meu desvario se renova...
Como que, abrindo todos os jazigos,
A Morte, em trajos pretos e amarelos,
Levanta contra mim grandes cutelos
E as baionetas dos dragões antigos!

E quando vi que aquilo vinha vindo
Eu fui caindo como um sol caindo
De declínio em declínio; e de declínio
Em declínio, com a gula de uma fera,
Quis ver o que era, e quando vi o que era,
Vi que era pó, vi que era esterquilínio!

Chegou a tua vez, oh! Natureza!
Eu desafio agora essa grandeza,
Perante a qual meus olhos se extasiam...
Eu desafio, desta cova escura,
No histerismo danado da tortura
Todos os monstros que os teus peitos criam.

Tu não és minha mãe, velha nefasta!
Com o teu chicote frio de madrasta
Tu me açoitaste vinte e duas vezes...
Por tua causa apodreci nas cruzes,
Em que pregas os filhos que produzes
Durante os desgraçados nove meses!

Semeadora terrível de defuntos,
Contra a agressão dos teus contrastes juntos
A besta, que em mim dorme, acorda em berros
Acorda, e após gritar a última injúria,
Chocalha os dentes com medonha fúria
Como se fosse o atrito de dois ferros!

Pois bem! Chegou minha hora de vingança.
Tu mataste o meu tempo de criança
E de segunda-feira até domingo,
Amarrado no horror de tua rede,
Deste-me fogo quando eu tinha sede...
Deixa-te estar, canalha, que eu me vingo!

Súbito outra visão negra me espanta!
Estou em Roma. É Sexta-feira Santa.
A treva invade o obscuro orbe terrestre.
No Vaticano, em grupos prosternados,
Com as longas fardas rubras, os soldados
Guardam o corpo do Divino Mestre.

Como as estalactites da caverna,
Cai no silêncio da Cidade Eterna
A água da chuva em largos fios grossos...
De Jesus Cristo resta unicamente
Um esqueleto; e a gente, vendo-o, a gente
Sente vontade de abraçar-lhe os ossos!

Não há ninguém na estrada da Ripetta.
Dentro da Igreja de São Pedro, quieta,
As luzes funerais arquejam fracas...
O vento entoa cânticos de morte.
Roma estremece! Além, num rumor forte,
Recomeça o barulho das matracas.

A desagregação da minha idéia
Aumenta. Como as chagas da morféa
O medo, o desalento e o desconforto
Paralisam-se os círculos motores.
Na Eternidade, os ventos gemedores
Estão dizendo que Jesus é morto!

Não! Jesus não morreu! Vive na serra
Da Borborema, no ar de minha terra,
Na molécula e no átomo... Resume
A espiritualidade da matéria
E ele é que embala o corpo da miséria
E faz da cloaca uma urna de perfume.

Na agonia de tantos pesadelos
Uma dor bruta puxa-me os cabelos,
Desperto. É tão vazia a minha vida!
No pensamento desconexo e falho
Trago as cartas confusas de um baralho
E um pedaço de cera derretida!

Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme.
Eu, somente eu, com a minha dor enorme
Os olhos ensangüento na vigília!
E observo, enquanto o horror me corta a fala,
O aspecto sepulcral da austera sala
E a impassibilidade da mobília.

Meu coração, como um cristal, se quebre
O termômetro negue minha febre,
Torne-se gelo o sangue que me abrasa,
E eu me converta na cegonha triste
Que das ruínas duma casa assiste
Ao desmoronamento de outra casa!

Ao terminar este sentido poema
Onde vazei a minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos...
Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos.

Augusto dos Anjos

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

É preciso matar essa Quimera que me destrói por dentro.


Bem... Hoje eu estou falando com você, leitor.
Perece meio estranho ouvir isso de alguém que você nem conhece, mas, preciso desabafar.
Estou hoje dividido.
Gosto de alguém que não me corresponde.
Daí você pode dizer: há! Mas quem nunca passou por isso?
Verdade...
Não sou o único na face da terra que sofre por alguém. E nem tenho a pretensão de achar que o meu sofrer é maior que o de outra pessoa.
Mas, preciso dizer isso para alguém. E escolhi você.
Gosto de alguém que... Talvez nunca sentiria o mesmo por mim, pois ... (nossa, é estranho. Tudo isso aqui dentro de minha cabeça) cai numa armadilha por vontade. Mesmo sabendo que isso aconteceria.
E por não querer machucar essa pessoa, me escondo em versos, textos, poemas, frases...
Enfim, me escondo de mim mesmo. Pois não tenho coragem de falar, e correr o risco de ser rejeitado (não rejeitado simplesmente. Mas, perder alguém que realmente é importante para mim (Nossa! É mais que eu posso imaginar, mas nos conhecemos a tão pouco tempo, dois três meses, não sei direito. Mas essa pessoa realmente é importante para mim. Não sei por que, mas é)).
É agradável a companhia dessa pessoa, gosto de conversar, falar besteira, rir de assuntos banais, falar de filmes, musicas, contar piadas...
É gostoso quando estamos juntos. Mas essa pessoa nem desconfia que gosto dela (acho)
E talvez se desconfiasse, não olharia em minha cara mais nunca.
Realmente eu gostaria de ser normal...
“Mas, me é proibido ver o céu”
Gostaria que isso que eu sinto não fosse como eu sinto. Ou seja, fosse só uma atração, ou apenas sexo. Dessa forma seria mais fácil lidar com isso. Mas não é... Talvez eu deseje essa pessoa como uma esperança de mudança em minha vida. Talvez eu me tornasse uma pessoa melhor.
Ou, talvez, isso não seja realmente o que eu sinto. Mas sinto!
Eu tento não demonstrar o que sinto quando estamos juntos. Mas acho que meu olhar me denuncia.
Só não entendo como é que essa pessoa não percebeu nada ainda. Talvez a “mascara” que estou usando, seja realmente forte, e consiga esconder meus olhos.
Ou essa pessoa, realmente não me enxergue como um alguém que poderia gostar dela.
Mas isso ta me doendo muito. E por não ter com quem desabafar, estou escrevendo isso (talvez ninguém nunca leia).
Gostaria de ter a coragem de falar o que sinto. De me abrir para essa pessoa.
Mas o que eu perderia se essa pessoa me repudiasse eu não estou disposto a perder, e não tenho fichas o suficiente para apostar nesse jogo, e, talvez eu não tenha mais estruturas para agüentar a dor de perder mais alguém. E não sei como reagiria. Tenho muito medo de mim...
Poderia perder uma amizade muito linda (pelo menos no meu ponto de vista) e não sei se estou disposto a tanto.
Talvez um dia isso passe. E essas linhas sejam lidas com desdém por mim mesmo.
É... Eu sei que vai passar. Afinal, nada é para sempre. E mesmo se eu conseguisse o coração dessa pessoa, um dia isso acabaria. Mas ai... Coisas muito maiores que esses medos meus teriam acontecido, e compensariam meu desespero hoje.
Hoje tomei uma decisão (talvez infundada) de me afastar. Não sei ate quando. Mas vou manter a mim e a pessoa protegidos disso ate que passe. Vai passar, eu sei.
Ate lá, veremos o que acontece.

ps.: Gostaria muito que VOCE lesse isso.
Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também.

Ferreira Gullar

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


Nos mais altos platôs de meu
Insignificante ser, disposto a voar
Dei de cara com muralhas

Nas mais profundas alegrias
De minha inútil vida, pode sentir
Mas mais afiadas laminas de meus pudores

Dos mais brancos pecados
Cometi, talvez, o mais alvo
Amar, querer sentir...

Adormeci em verde campinas,
Sofri mas doce dor,
Senti mas pesado sentir,
Lutei mais sublime paz,
Morri... doce ilusão que me fez sonhar.

                                        Angello Max
A MORTE FAZ UM ARTISTA

Só uma vez eu pude ver meus sonhos
Não sentia-me pequeno abaixo das estrelas
Uma vez tive barras em meu berço
Como prisioneiro de lá escrevi uma carta meu senhor, para ti, deixe-me ser o que minhas crianças pensam que sou
Em você está a beleza do mundo, no qual a morte me fez um artista

O silencio da profunda magoa de ser e estar, as palavras que não saem, e os pensamentos que me torturam
Sou meu proprio verdugo, sou eu o meu super-ego

Meu próprio paraíso eu criei aqui
Deixe-me ir embora

sábado, 13 de fevereiro de 2010

ORAÇÃO A SÃO JORGE:
Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos ,tendo pés não me alcancem,tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos me fazem mal.
As armas de fogo o meu corpo não alcançarão ,facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua divina graça,Virgem de Nazaré me cubra com seu manto divino e sagrado protejendo-me em todas as minhas dores e aflições e Deus ,com sua divina misericórdia e grande poder seja meu defençor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.
Glorioso São Jorge,em nome de Deus,estenda o seu escudo e suas poderosas armas ,defendendo-me com sua força e com sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.
Assim seja com poder de Deus,de Jesus Cristo, e de São Miguel Arcanjo. Amém!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Eu sou tão falso quando finjo alegria,
E tu, mais desconfiado quando finge simpatia,
É como um terremoto em um deserto,
Que a tudo derruba,  mas ninguem vê que eu ja estou morto.

E nem todos sabem,
Más em casos de perigo se salva só quem sabe voar melhor,
mas excluindo os pilotos, nuvens, anjos, aguias, pássaros e as areias
Só resta eu...

E eu me pergunto:
Me diga, o que fará? Visto que ninguem virá tentar te salvar.

Então como viver uma vida de campeão,
 E me orgulhar de não ter medo de perder uma luta?!

Eu me sinto como quem sabe chorar
Todavia inda é a minha idade,
Eu sempre agradeço a quem sabe chorar de noite,
Talvez seja a minha idade.
Mas a vida o que me deu?
Tanta tristesa, dor, tudo e nenhum amor verdadeiro...
Mas agradeço a quem sabe perdoar, e encherga é tudo culpa de minha idade.

É certo que não é facil,
Eu observava a vida como um cego a observava.
Porque aquilo que tu me disse pode até doer...
Porém o que voce nao disse, pode ferir ate a morrer.

E novamente me sinto como quem sabe chorar de noite,
Talvez seja minha idade...
outra vez agradeço a quem realmente a quem sabe chorar,
E vê que é culpa de minha idade...
Mas o que a vida realmente me deu?
Tristesa, dor, tudo e nenhum amor verdadeiro
Mas sei agradecer a quem sabe perdoar,
E enchergar que isso tudo é culpa de minha idade.

E que a vida te dê o que ela reserve, espero...
Que tu Chorará por coisas feias e coisas belas, e que...
Que seu rancor e medo se convertam em tua loucura e cura!
E a alegria que eu perdi, regrece nesta hora e porque...
Somente o caus e a retória
Confunde e modifica a ocorrencia histórica, e...
Deus havia me sugeriu que eu te perdoace.
E o que ele diz...
Eu escuto e faço...
So não falo, de noite, a minha iadade.
       
           Angello Max (inspirado em Alla Mia Etá)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


Escondo-me de mim mesmo
Atrás de uma porta aberta
Para não ver sair de mim
A natureza incerta
De um Deus Austral.

Das flores que trazia
Em meus pés descalços
Tenho apenas o néctar,
De uma vida incerta,
De uma paixão duvidosa.

Nos cabelos meu já não trago
Os anéis de ouro
Já não trago os pequenos tesouros
Só trago o negror de uma madrugada
Que não passa...

Dos beijos meus já esquecidos
De cor, trago apenas o amargor  
Trago apenas a canção sofrida
De uma ferida aberta

De um sofrimento vão.

Amores...?
Não sei.
Nunca os tive.
                                          Angello Max

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Princípio e fim


Sou eu aque por quem a noite se fez mãe
Sou eu aquele que passa e ninguem vê,
Sou aquele que chora sem querer
Sou aquele que, em pedaços, olha pro céu procurando você.

   Angello Max

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010


Poderia deixar-te uma ultima pétala de minha inocência
Perdida por entre os charcos lamacentos por onde andei...
E assim te mostrar quem sou.


Poderia dar-te as flores de meu pecado maior,
de amar alguém que não devo...
Poderia...?

Poderia entregar-lhe o meu relicário de dores
para que tu possas ver nele o quanto amargo é o meu destino
E o meu passado...

Mas não poderia te dar um eu puro,
Livre de manchas, de máculas, de sujeira e lodo...
O meu ser é triste e só
E, Talvez tu não o queira ver...


                                                           Angello Max
"Quanta coisa ainda por dizer
Do meu amor imenso por você
Quantas palavras que ficaram no ar
Suspensas pra sempre
Perdidas no mundo sem encontrar você"


Um dia eu reunirei coragem, e falarei o que realmente sinto...
Um dia eu terei coragem de fazer o que realmente quero...
Um dia, eu irei olhar em seus olhos, e confeçar tudo q há dentro dos meus...
Um dia...

Neste dia, talvez, eu perca o bem que eu julgo mais precioso...
Neste dia, talvez, eu caia novamente...
Neste dia, talvez, meu mundo desmorone...

Não sei se quero perder...
Não sei se quero lutar...
Nao sei nem se quero ganhar..

Tenho medo da noite.
                                          Angello Max (para alguem que talvez eu ame, e não sei)

                             

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

...

Hoje os rostos que eu via quando eu era jovem vão se transformando ate que eu os reconheça.
Parecem mosaicos de um caleidoscópio, transformando, multando, ate que me lembre...
Minha memória anda fraca, às vezes lembro-me de algo, e me parece que sonhei. Daí, me pergunto. Sonhei, ou vi?
Quando eu era jovem era assim... Talvez fosse assim porque eu era jovem.
O coração às vezes parece que quer parar. Daí eu digo para ele. Vamos amigo... Só mais um pouco. Ainda tenho algo a ver. “não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar. Não deixe nada pra semana que vem. Semana que vem pode nem chegar...”
Daí ele volta a bater.
Esses dias eu vi um pássaro. Ele era normal, não vi nada de mais, mais esse pássaro me fez lembrar um dia em que eu estava realmente onde eu queria estar. Era um lugar normal. Mas não foi menos especial, já faz algum tempo, mas me lembro bem. Era uma cabine de um estádio de futebol onde comemorei ter passado de ano com meu irmão. Não sei por que desejei estar ali... Mas estava bem. Estava em paz. Não havia som, não havia carro, nem pessoas ao meu redor. Só eu e um pássaro. Era engraçado... Ele parecia que estava ali por mim. Mas disfarçava. Eu olhava pra ele, e ele estava olhando pra mim, mas virava de lado... Conversei muito com ele. E ele parecia me entender... Depois foi embora. Eu fiquei ali.
Não sei por que me lembrei disso. São essas situações que me fazem achar que sonhei.
E o coração bate fraco... Como se quisesse parar.
Bate mais um pouco. Fica aqui comigo meu amigo... E ele volta a bater.
E isso voltar a bater à minha porta...

                           Angello Max

O Ósculo

Um ósculo na penúmbra.
Nada se vê, além do manto argêntio de Silene,
Que a tênue silhueta de dois seres.

E ela, como uma caftina,
De lambujem entrega ao ser, que agora é um, siderais brilhantes.

Porém Hélio, como um sicário harto, tange à uma cafua o ser, e faz labéu de seu sentir.

O ser se faz siar, e ao tombar no charco,
Se parte, torna-se novamente dois.

Hélas, se fosse o ser, eu.
E em um dolmem repousar plácido.
Não haveria outrora vilipêndio ou escárnio, apenas a cálida tempestade que se faz ao ser.

                                                                                                              Angello Max

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Noite alta, céu sombrio
Eu, tonívago, passava por vielas
A procurar nos cadinhos, o resíduo insone de meu ser.

E no meu vae victis!
Despojava a mercê de um verdugo
A verve de minha existência.

E ficto vate,
Vociferava ao firmamento,
Evanescentes verbos

Que pareciam vaticínios a um passado de veleidades.
Certo de estar morto,
Deixei-me vagar por vergeis plenos de doces frutos.
Mas, não era, pois a morte quem me abraçava,
Apenas era o torpor inebriante do frio da madrugada.

                                                         Angello Max
Estou eu agora sentado em meu quarto
Palavras voam soltas como balas de canhão
Batendo nas paredes, e refletindo em mim...

Tombo com o impacto de minhas palavras
Contra o chão frio,
Com minha face voltada para o nada
Fito um resquicio de luz azul
Que se infiltra pelo meu telhado.

Vejo-me então volteado por inimeros pontos de luz
Como uma gaiola...
Grades de luz.

Estendo a mão, e toco o espetro luminoso
...Nenhoma senssação...
Teria a minha alma esquecido como é ser tocada?

Ao longe ouço um rugido.
Seria o sol, a esgueirar-se
Por as ruinas de meu passado esquecido?

Ou sou eu mesmo a respirar...?

Não sinto nada. Nem mesmo dor.
Será que tudo me abandonou?

Do meu peito ensanguentado
Jorram palavras como um toernado
Qe não me deicham dormir.

...Vejo o Sol...

                                           Angello Max
Este livro é de mágoas. Desgraçados
Que no mundo passais, chorai ao lê-lo!
Somente a vossa dor de Torturados
Pode, talvez, senti-lo ... e compreendê-lo.

Este livro é para vós. Abençoados 
Os que o sentirem , sem ser bom nem belo!
Bíblia de tristes ... Ó Desventurados,
Que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo!

Livro de Mágoas ... Dores ... Ansiedades!
Livro de Sombras ... Névoas e Saudades!
Vai pelo mundo ... (Trouxe-o no meu seio ...)

Irmãos na Dor, os olhos rasos de água,
Chorai comigo a minha imensa mágoa,
Lendo o meu livro só de mágoas cheio! ...