segunda-feira, 8 de março de 2010


Me é proibido ver o céu

O tempo passa rapidamente e logo se aproxima o fim de mais um ano. O grupo se prepara para passar o réveillon em uma cidade litorânea, e Itacaré foi o lugar escolhido por todos para festejar o fim de ano.
Benjamim e Natalia já haviam ido para a cidade, pois os pais de Natalia possuíam uma casa no local, Adriano, Rodrigo, Ninna, Edward, Danilo e Angello partiram no dia 31 do mês de dezembro.
Chegaram já de tardezinha, e dirigiram-se imediatamente para a praia mais próxima.
A praia de Rezende, emoldurada por coqueiros e pedras, estava de uma beleza impar com suas águas azul-celeste. Eles se alojaram em uma das pedras e ficaram a contemplar o mar com suas ondas ruidosas ao bater nas pedras. Não demora muito e uma lua cheia inicia sua ascensão lenta e furtiva por entre as nuvens avermelhadas pelo resto de sol que se punha. O cenário era arrematado por alguns quiosques que ascendiam suas luzes para clarear as brancas areias da praia da Tiririca à direita de onde estavam os jovens.
O casal, Benjamim e Natalia se enamoravam mais e mais com o por do sol, Adriano comemorava o nascer da lua tocando o seu violão suavemente como se não quisesse acordar a amarelada dama fria que se erguia das águas de um mar já quase todo azul-cobalto.
Angello contemplava a nova noite que nascia como se fosse a primeira vez. Contemplava com os olhos embebidos em lagrimas de exaltação a beleza quase única deste momento. Danilo senta-se ao seu lado e admira como ele parece alegrar-se com isso. Ele nunca havia manifestado nenhum sentimento antes. E agora estava emocionado com aquela visão. Havia em seus olhos tristes, um esplendor mágico, quase divino, ao contemplar a lua que nascia.
- Lindo não é? Fala Danilo com os olhos fixos no horizonte.
- Sim... Faz muito tempo que não vejo nada tão perfeito assim. Fala Angello com sua voz melodiosa sem desligar os olhos da lua que agora brilha por inteiro de um amarelo dourado.
- Realmente. Eu também nunca havia visto algo assim.
Os dois se calam como se quisessem ouvir o sussurrar da lua por as nuvens. Adriano com seu violão toca Melodia Sentimental de Heitor Villa Lobos. Ninna Canta as sentidas estrofes com um profundo prazer. Sua voz parece mais viva e pura.
Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar
As asas da noite que surgem
E correm o espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar
Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor
Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir seu amor é sonhar.”
A voz de Ninna parecia inspirar a noite. Com sua musica até mesmo as estrelas pareciam ter mais viva, a melodia de sua voz acalmava o mar, e fazia as ondas dormirem. Tudo parecia mais calmo agora.
As horas avançam e eles se preparam para a passagem de ano. Natalia estava linda em um vestido branco de crepe com detalhes em prata e costas nuas. A Ninna não ficava para trás, em uma bata creme com decote ate quase o umbigo, e uma calça larga de algodão cru. Rodrigo estava com uma calça branca no estilo pescador ate metade da canela, e uma camiseta regata também branca. Adriano de bermuda larga azul clara e camisa branca com mangas longas.  Apenas Angello vestia preto, estava com uma calça um pouco justa preta e uma camisa preta com um desenho de um par de asas desenhado nas costas também pretas.
Todos se dirigiram para a praia da Ribeira onde haveria um show de Rock.
 Muitas pessoas já estavam no local quando eles chegaram. Alguns grupos se formavam no local. Outros se afastavam dos demais para fazer uso de entorpecentes. Bebida era servida a largos goles como em um bacanal, e como no mesmo, pessoas dançavam e cantavam em movimentos quase orgásticos. Os amigos estavam eufóricos, a bebida já havia feito efeito em suas mentes. Eles já estavam entregues aos prazeres do álcool, e dançavam como os demais.
No meio de todo esse êxtase, Danilo vê, de relance, os olhos que ele via em seus sonhos, aquele brilho azulado como de um metal prateado, passar por entre a multidão enlouquecida. Por um momento ele pensou em seguir aquele brilho, mas logo ele o perdeu no meio do tumulto. Procurou a sua volta, mas não o encontrou. Ele estava embriagado, já não podia controlar seus pensamentos.
Meia noite. Os fogos estouram, as pessoas se abraçam desejando boas vindas ao novo ano, alguns vão para as águas e se jogam, outros apenas observam os fogos. Angello sentado em uma pedra era um dos que apenas observavam os fogos.  Ninna vai ao seu encontro e o abraça.
- Rapaz! Hoje é festa, vamos curtir. Sai dessa fossa eterna em que você vive. Diz ela alegremente para ele.
- Mas eu estou feliz... Eu estou entre amigos, a noite esta linda... Eu realmente estou feliz. Fala ele.
- É! Me esqueci que você não sabe sorrir.
- Sorrir eu sei. Só não o seu externar. Eu olhar estava realmente mais plácido como se sorrisse.
- Vamos nos juntar ao resto da galera. Puxa ele pelo braço.
- Não. Me deixe aqui, preciso pensar um pouco.
- Tudo bem. Já que você prefere ficar ai... Fala Ninna, e se vai. Angello continua sentado observando o reflexo dos fogos nas ondas que lambem as areias da praia.
O show recomeça, e eles voltam a curtir a noite embalada por um metal pesado a banda tocava musicas da Sleepknot e todos estavam em seus “bate-cabeças” quando Danilo avista novamente o olhar no meio da multidão. Dessa vez ele o segue. O olhar de luz azulada o leva em direção a trila que fica atrás da pequena ribeira que da nome a praia. Ele se embrenha na faixa de mata atlântica seguindo o vulto de tênue luz azul e entra cada vez mais na floresta. O som vai ficando cada vez mais longe, cada vez mais distante ate que não da mais para ser ouvido. Danilo acaba por se perder na mata, mas não se da conta disso, apenas segue o vulto que farfalha por entre as arvores como o bater de asas de um pássaro noturno.
- Ei! Espere! Grita o jovem, mas a sombra semi luminosa não da ouvidos a ele e o leva cada vez mais dentro da mata. O som de águas de uma cachoeira é ouvido por entre a escuridão da mata que é apenas iluminada pela lua cheia, Danilo grita para que a sombra pare, mas não é ouvido, e ele continua a seguir. Ate que de repente, ele se vê em um lugar aberto com um precipício que se lança abruptamente ao mar, ele estava no lugar conhecido como “prainha” e La ele vê um ser sentado sobre uma pedra que se ergue na beira do penhasco. A criatura esta de costas para ele. Danilo se aproxima cautelosamente da criatura, a luz da lua banha o mar, as ondas resvalam nas pedras do penhasco em grandes estrondos como trovões. A criatura ale sentada parece contemplar a noite que brilha nas águas, as estrelas refletem nas vagas como diamantes, e o cheiro do salitre invade as narinas do jovem, que amedrontado se pergunta se é real ou mais uma de suas tristes visões o que está a ver.
- Quem é você?  Pergunta Danilo. A criatura de costas para ele nada responde, apenas observa os barcos de pesca que, com suas luzes, se assemelham a estrelas nadando no mar escuro banhado pela lua prateada.
Danilo aproxima-se mais, e pode notar formas na criatura. Era uma figura esguia com longos cabelos negros mesclado com mechas prateadas, de pele alva e cândida como o marfim, havia três pares de asas negras também mescladas de penas claras como prata que brilhavam ao toque da luz da lua. Estava vestido seu rosto fino era contrastada com um olhar triste, e seus olhos claros como a própria lua, emanava uma luz azul calma, seus lábios finos e lívidos, expressava o nada, nem tristeza nem alegria. Era Ehles’tar. Ele se vira suavemente para Danilo para não o assustar, e em seu pensamento fala com ele.
- Ouça como a noite canta, sinta-a falando contigo. A voz de Ehles’tar econa na cabeça de Danilo como em uma caverna profunda e escura, mesmo sem ele ter dito palavra alguma.
- Quem é você? Pergunta o jovem mais calmo. Você é real ou é mais uma de minhas visões?
- Sou tão real quanto a noite que te abraça. Fala ele com uma voz suave e melodiosa. Chamo-me Ehles’tar. Acho que tens algumas perguntas a me fazer. Ehles’tar se levanta e aproxima-se de Danilo, seus pés descalços parecem não tocar o chão quando caminha em direção ao jovem.
- O que você é? Pergunta Danilo. Ehles’tar abaixa a cabeça e se volta novamente ao penhasco. Você é um anjo, não é? Torna perguntar o jovem. Imagens desconexas rolam em sua cabeça, ele revê as cenas do acidente, da sombra o abraçando e protegendo ele da morte. Lembra-se de quando era criança, e brincava com um ser imaginário que sua mãe dizia ser o seu anjo da guarda. Lembra de seus sonhos, onde ele se via no alto de uma montanha e a esfinge o interrogava. Um turbilhão de memórias invade a mente do rapaz, que confuso observa aquela criatura a sua frente. Responda! Você é um anjo?
- Não mais... Um dia já fui chamado assim... Hoje, não mais. 
- Então, o que é você?
Ehles’tar senta-se novamente a pedra onde estava.
- Me chamam de muitas coisas hoje. Renegado, Rebelde, Caído... Demônio. Essas são as nomenclaturas para mim hoje.
- Demônio? Você é um demônio?
- Sim, eu sou. Responde Ehles’tar com um tom entristecido. Seus olhos se voltam para o jovem que agora o olha assustado e confuso.
- Mas... Como um demônio salvou a minha vida? Pergunta Danilo atônito. Era você lá, não era? Quem me salvou, que brincava comigo na infância. Era você nos meus sonhos que me salvava do monstro?
- Sim... Salvei a tua vida. E de alguma forma, você sonhou comigo.
“Esses olhos... Eu os conheço. Já os vi antes” pensava o jovem.
- Mas porque você salvou minha vida? Um demônio?
- A definição de demônio em seu vocabulário é, de certa forma, errada. Os demônios nada mais são, que criaturas que se rebelaram contra o Criador. E que preferiu viver com os seres humanos e proteger-los. Não seres maléficos que assombram e confundem os caminhos dos humanos. Somos criaturas tristes e sem Graça. Mas não maus... E quanto a te proteger... Talvez eu tenha me envolvido demais em sua vida, e não pude deixar que partisse dessa forma. Mesmo sabendo que era chegada a sua hora. [continua]

2 comentários:

  1. Nossa amei este seu texto,muito bom mesmo,estou te seguindo http://isamichelly.blogspot.com/ pode dar uma conferida no meu blog?

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  2. Quatro anos depois... Obrigado Isadora, obrigado mesmo.

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