quinta-feira, 11 de março de 2010


[...]continuação
- Me proteger...
- Esse é o meu dever, Danilo. Proteger-te, eu estava lá quando você nasceu, estive do seu lado enquanto você crescia, te ou via quando você conversava comigo em suas orações,  estive do seu lado quando sofreu o acidente, estive do seu lado por toda a sua vida...  Não deveria ter salvado a sua vida, era o seu destino e eu sabia disso... Mas envolvi demais em sua vida e não consegui deixar que você partisse. Ehles’tar deixou uma lagrima cair de seus olhos cinza, a lagrima caiu no chão e uma flor nasceu dela. Era uma flor azul arroxeado, uma Flor-de-lis, símbolo de realeza e pureza. Ehles’tar colhe uma das flores e a observa por um longo momento como se aquela flor tivesse dentro dela um universo. Então ele deixa-a cair de suas mãos finas com longos dedos, e olha fixamente nos olhos de Danilo. Essa é toda a verdade.
- Mas... Demônios... São maus, e você está chorando. Diz Danilo um tanto confuso.
Ehles’tar rir suavemente e estende a Mao para Danilo que se afasta com medo, mas logo depois se sentindo mais seguro, segura-a. como um pássaro que alça vôo Ehles’tar se lança no abismo abaixo de seus pés, subindo logo em seguida com suas asas abertas como um albatroz. Ele leva Danilo por entre as nuvens como um adulto guia uma criança pelas mãos, chegando a um lugar alto, como um cume de montanha, onde de lá se podia ver todo o mundo. Eles pousam tranquilamente.
- Escute. Fala Ehles’tar calmamente para Danilo. Quando o Criador resolveu criar tudo que você conhece, ele cansou-se com isso, derramando seu suor ao dar formas às coisas que hoje existe. Primeiro ele criou a Luz e a escuridão. E do seu primeiro suor nasceu Lúcifer, O que Carrega a Luz. Lúcifer era belo e altivo com seus cabelos prateados mesclado de negro, sua pele alva como o nascer de um dia. Sua voz era belíssima como e toar de clarins, seus olhos emanavam uma luz tão pura, que tudo que dela era banhada parecia se vestir de luz também. Depois de criar a luz e separar-la das sombras, o Criador criou o firmamento, o céu, colocando nele todos os astros e brilhos noturnos, uma Chama para iluminar o dia, e uma lanterna para guiar a noite. Desta criação Ele também se cansou, e de seu segundo suor nasceu Miguel, O Facho de Fogo Que Ilumina o Dia. Este era tão belo quanto o primeiro, porém mais agitado que o primeiro, ele era forte e majestoso, tão belo como o sol, seus cabelos curtos e caracolados eram dourados como o trigo, e sua pele morena como o cedro. Sua voz era tão pura que se assemelhava aos trinar de rouxinóis, e seus olhos emanavam uma luz clara de uma manha de verão. Depois de criado o céu, o Criador fez as terras, as plantas que cobriam a terra e as águas, e de seu cansaço surgiu Gabriel, O Senhor das Terras Fecundadas, onde tudo que é vivo nasce, cresce e morre.  Gabriel era delicado com uma beleza quase feminina como uma flor de lótus. Seus cabelos castanho, longos recaiam sobre seus ombros como uma cascata, seus olhos também castanhos de um tom avermelhado como a noz de avelã, emanava uma paz tão profunda, que todos que dela se banhava eram reconfortados de suas dores e adormeciam ao som de sua voz. Após criar todo o resto e antes de descansar, o Criador fez os seres humanos, para poder habitar o seu jardim, pois era um lindo jardim toda a criação, e ele pós os homens para viver nesse jardim, privando-os apenas de uma coisa, uma pequena coisa que talvez, fosse grandiosa demais para vocês. O conhecimento do Bem e do Mau. E isso aborreceu o primogênito do Criador, Lúcifer, pois ele achava injusto poupar os humanos do conhecimento. Assim, Lúcifer fez com que a serpente ludibriasse os homens a conhecer da fruta do conhecimento, mostrando a eles que eles poderiam se igualar ao próprio Criador dessa forma. E eles provaram do conhecimento, e deixaram de ser ingênuos e puros, pois dessa forma conheceram também o pecado. O Criador ficou muito aborrecido e triste com os homens, pois o desobedeceram, e ele chorou pela primeira vez, criando assim os Serafins, ou as Áspides Ardentes Voadoras, que tudo o que tocam queimam intensamente. Os Serafins são as lagrimas do Criador que, por amor aos homens, chorou ao ter que expulsá-los da criação. E foi esse amor que me criou e nos fez proteger vocês das serpentes que rastejam a noite.
Terminando de falar, Ehles’tar com um movimento suave de suas mãos faz todo o cenário ao seu redor desaparecer, e eles estavam de volta ao penhasco da Prainha novamente.
Danilo olha em volta reconhecendo o lugar senta-se numa pedra e olha nos olhos de Ehles’tar.
- Mas se você é um Serafim, porque me disse que era um demônio?
- Como eu te disse. A nomenclatura está um pouco errônea em seu vocabulário. Seres como eu, que um dia tiveram Graça e hoje vivemos entre vocês humanos, somos a voz interior, quem vos aconselha. Somos nós quem guiamos vocês pelos caminhos tortuosos de fora da criação. Mas a palavra foi modificada com o passar dos tempos e hoje somos tidos como seres maléficos. Más, isso não importa muito para nós. Vivemos ao redor de vocês, e ajudamos nas suas decisões, confortamos quando sofrem e salvamos quando é necessário. Mas no seu caso eu agi com a emoção, e não com a razão... Por isso, me é proibido ver o céu...
- Mas porque vocês foram banidos do paraíso?
- Quando os homens erraram pecando contra o Criador, Ele pensou em destruir tudo, o jardim e todas as coisas criadas, inclusive os homens. Mas nós, os Serafins, e os Arcanjos, o suplicamos para que não fizesse tal coisa, pois não foi culpa deles o erro. Então ele resolveu dar uma chance aos homens. Ele nos pediu para observar-los e protegê-los, pois como Pai, se preocupava com suas crianças. E foi o que nos fizemos. Até que os homens conheceram a violência, as armas, a degeneração, a prostituição, e se tornaram uma praga no mundo. O Criador decidiu destruir tudo novamente. E novamente nós intervimos em favor dos homens, pois nem todos eram maus e corrompidos, havia alguns de coração bom, que orava ao Criador, que cuidava de sua prole, e de seu rebanho. Então o criador voltou atrás mais uma vez. Mas a grande maioria dos humanos eram pragas, câncer de um sistema quase perfeito criado por Ele. Os arcanjos começaram a reclamar ao Criador para que limpasse a terra desta praga. Entre os arcanjos, Lúcifer era contra essa decisão e ficou do nosso lado para proteger os humanos. O criador então decidiu destruir tudo, mas dessa vez ele não voltaria atrás. Nós os Serafins suplicamos, imploramos, mas Ele não estava declinado a mudar de opinião, e nos disse que se quiséssemos ficar do lado dos humanos, que nos juntássemos a eles na destruição e abandonassem o Éden. Lúcifer nos apoiou e disse que ficaria do nosso lado houvesse o que fosse, e procurou por alguém que merecesse sobreviver à destruição. Encontrou um senhor chamado Noé e o alertou da catástrofe que se abateria sobre a raça humana e a criação. Esse por sua vez construiu uma barca onde pudesse caber ele sua família e mais um casal de cada animal, e quando a mão do Criador caiu sobre nós e os humanos, ele flutuou e sobreviveu. E assim salvou a raça humana. Lúcifer foi trancado para pagar por sua traição, e nos fomos proibidos de voltar ao Éden, assim como vocês. Essa é a minha historia meu caro. Esse sou eu, um Demônio, um renegado das Graças divinas, um ser triste que se amargura por ter escolhido ficar do lado do que ele amava, e teve que pagar um preço muito alto para tanto... Mas se eu não tivesse amor, eu nada seria. Dito isso Ehles’tar desaparece no ar como se nunca estivesse ali.
Danilo fica se perguntando se ele realmente havia visto tudo aquilo, o sol inicia sua subida lenta e dolorosa no céu rasgado por nuvens ralas. A lua a muito já havia se escondido por detrás do horizonte negro. Um novo dia começava, e Danilo tinha que voltar para seus amigos.

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